ORIGENS DA FAMÍLIA BALDISSERA E SUAS VÁRIAS
DENOMINAÇÕES ATRAVÉS DOS SÉCULOS
(Trecho de uma publicação de Giàcomo Baldissera sobre a vida de Dom Valentino Baldissera, historiador, pintor, genealogista e benfeitor.
Giàcomo Baldissera (1866-1945) foi professor, diretor de colégios em Gemona, Tarcento e Veneza, historiador, pesquisador, genealogista e pintor. Entre as pesquisas históricas a que se dedicou, estão o Cêrco de Osopo em 1948, o Castelo de Braulins, o Antigo Castelo e Paróquia de Artenha, a Paróquia de Tarcento. Mas foi realizando a "Biografia de Dom Valentino Baldissera" que tomou conhecimento das mais antigas noções para a reconstrução da História de nossos antepassados.
Gemona del Friulli |
Giàcomo Baldissera era pai de Ottorino Baldissera. Por receio de fugir do sentido real do texto, a tradução é literal, o que torna um pouco difícil a leitura em certos trechos. (Tradução e observações numeradas de Rafael Baldissera.)
A Família Baldissera é uma das mais antigas de Gemona-UD, cuja presença vem citada pelos escritores desde os albores da comunidade livre (século XIII).
A Família gemonesa dos Baldissera, hoje espalhada em vários pontos da Itália e também nas distantes Américas, assumiu tal sobrenome somente depois do ano 1500. Antes, os Baldissera, por quase dois séculos, se chamavam Danelutti, patronímico derivado de um tal Daniel, que viveu lá pelos anos de 1350, que, do friulano Nelut, transformou-se literalmente em Nelutis ou Danelutti. Entretanto, as gerações anteriores distinguiam-se simplesmente pela localidade possuída e habitada fora dos muros da cidade, conhecida sempre sob a significativa denominação de Staulis ou de Stalis (1). Depois o sobrenome da antiga família Danelutti mudou para o de Baldissera.
Dos documentos resulta que esta mudança se liga a um acontecimento histórico da cidade, de uma certa importância, queremos dizer, a um episódio da famosa guerra vêneta contra a Liga de Cambrai e precisamente ao último imposto militar aplicado pelo famigerado Cristóforo Frangipane, Conde de Veglia, generalíssimo do Império, à Comunidade de Gemona, quando foi obrigado a abandonar o cerco de Osoppo, colocado em fuga pela Sereníssima (2) (10/03/1514).
Para pagar tal imposto Gemona foi obrigada a vender, com urgência, um pedaço do território equivalente a 15 campos e meio. E quem justamente comparece na transação no Cartório, na qualidade de depositário da Prefeitura pela avaliação do território sacrificado, em companhia do Prefeito Simone do Cônego, foi o vizinho Baldissera q. Antonio Danilutto (Baldissera Danilutti), o qual resulta, mais tarde, também proprietário de uma parte do dito fundo, que encontramos, daí para frente, sempre registrado ao patrimônio doméstico dos Baldissera de Sottocastello (3), chamados "Zuis" (4).
Do dito Daniluttus Balthassar, em dialeto Baldisar, prevaleceu o nome bíblico, talvez, e teria tornado assim popular a pessoa no lugar; assim teria começado por pública voz o novo batismo da família, que, ainda, se mantém nos sucessores, com a simples variante por metátese (5) de Baldissare em Baldissera.
Acerca dos antepassados dos Danelutti-Baldissera, a genealogia remonta só até o nome de Stèfano de Staulis, mestre-pedreiro, proprietário de casa e de horta nessa localidade e vivendo em 1327. A casa deste homem realmente surgia no Bairro Zùccola e o anexado terreno se estendia sobre uma zona que da estrada dos Zugli (6) chegava até o riacho Gradeola.
Como, depois de 1370, o dito terreno foi dividido a partir da terceira muralha de circunvalação (7) da cidade, assim, a partir daquele momento, ficaram abrangidas no recinto urbano também as casas dos Danelutti ("domus Danelutorum"), as quais, por isso, perdida sua rústica denominação dos tempos anteriores ("stalis"), começaram a fazer parte do bairro central da terra chamada Cícola ou Zùccola.
Segundo uma antiga tradição, o indigenato (8) da família de Staulis, em Gemona, precederia também a enfeudação (9) alemã do lugar (século XI) que, como é sabido, veio dos príncipes germânicos confiada aos senhores de Villalta, ou seja, a aquele ramo da nobreza friulana, chamado em seguida de Prampero.
O Liruti (10), enfim, nas notícias citadas da nossa terra, agregada entre as 70 e mais famílias originárias do lugar, presentes em Gemona no século XIII, junto com os Marini, os Coda, os Mulioni, os Della Capissa, etc, também os de Staulis, divididos em Visici e Frassini, confirmam evidentemente o fundamento da lembrada tradição.
Voltando às memórias da cidade, aos antigos parentescos e denominações das famílias locais, surgiu a certeza que o citado "mestre Stefano Pedreiro" deva ter tido relações de sangue (quando não tenha sido a mesma pessoa) com aquele "Stéfano de Staulis" chamado "Visic", que Bianchi recorda nos seus documentos, entre 1292 e 1299, junto com "Francesco di Staulis", chamado "Visic" (11) e Raineruccio, de Giacomo-Bertoldo, do mesmo ramo, os quais todos se encontravam envolvidos na rebelião dos feudatários de Gemona contra o Patriarca Raimondo della Torre, por quem foram processados e duramente punidos.
A homonímia dos dois Stefani, o período de convivência, a positiva persuasão do lugar, a reconhecida posse doméstica do terreno, indício evidente da condição jurídica pessoal, isto é, não sujeita a servidão, mas livre ou compreendida na antiqüíssima categoria dos habitantes não ligados ao domínio e à obrigação da inspeção, o grau na arte exercida (mestre pedreiro e não simples operário); semelhante, portanto, ao mestre Griglio, o valente construtor da Catedral de Gemona e da igreja de Venzone), a luta contra o Príncipe de Aquiléia, confirmando a importância pessoal, etc, permitiriam, como foi dito, de argüir um estreito parentesco e talvez também a identidade entre as duas pessoas.
Sabe-se que Raineruccio, pela sua rebelião contra o Príncipe, sofreu, então, não somente o seqüestro temporário de todos os seus bens mas também perdeu para sempre e sem ressarcimento, a posse do "Campo das Feiras", lugar como é conhecido, entre a estrada geral de Ospedaletto e a "Régule", onde justamente cada ano se organizam as famosas feiras da Cidade que duravam vários dias, e onde o mesmo Patriarca tencionava mudar o povoado de Gemona como lugar mais adaptado à sua expansão e ao seu comércio.
À exceção dos dois registros, não encontramos outras notícias acerca da tradicional família: um relativo ao casamento de Donella de Brazzá inferior, que se tornou esposa de "Eurico de Staulis", em Gemona, em 1313, e outro do mesmo ano, no qual "Alisa q. Rainério de Staulis", viúva de mestre Giacomo q. Valtero Valuti, que casou com o nobre Indriuccio de Zegliacco.
Pareceu-nos dever mencionar expressamente estas particularidades distantes, acerca dos antepassados dos Baldissera e da sua primitiva residência no lugar, para mostrar à luz do dia a modesta mas estimada origem da Família, que, se não brilhou, nem mais tarde, por grandes riquezas e por fama luminosa nas ciências, nas artes e nas obras civis, pelo menos ninguém pôde jamais ignorar sua dignidade de caráter ou a bandeira da honestidade transmitida pelos antepassados como distintivo do sangue.
E na verdade, nas memórias da Cidade não se encontra nada neles de mediocre, se bem que a maior parte tenha sido de índole tímida, de pouca fé nas suas próprias possibilidades e de um apego quase doentio ao lugar nativo(12) e às tradições dos antepassados.
Disto são vivas testemunhas os repetidos nomes transmitidos de pai para filho em cada ramo da família (13), as mesmas artes exercidas por várias gerações consecutivas (14), a freqüência dos casamentos na circunvizinhança, as raras migrações mesmo quando os membros eram obrigados a se separar, a rigidez nos propósitos, a tenaz persistência na conservação das terras e das casas herdadas dos pais (15), etc.
As propriedades, mesmo antes de 1300, no alto bairro de Zùccola, são mantidas, sem interrupção até os nossos dias, embora o terreno íngreme não tenha nunca oferecido as melhores comodidades aos seus habitantes.
E foi, sem dúvida, por uma conseqüência de tais insuficiências hereditárias que o último representante (16), não podendo transmitir na própria descendência a herança retalhada, quis ao menos que conservasse para sempre o nome dos pais, entregando-a em proveito de uma instituição beneficente (17).
atrás da Catedral, havia antigamente cavalariças, onde o povo deixava os cavalos, quando
ía à missa. (voltar)
serenidade com que julgava assuntos de Direito. (voltar)
para Vale Vêneto em 1887, era de Sottocastello. (voltar)
(4) "Zuis"= Zugli: Apelido com que também os descendentes de LUIGI BALDISSERA eram
conhecidos no Brasil. Epíteto dado a um ramo dos Baldissera desde 1500, e isto
provavelmente derivado do nome de um tal Julianus=Julius, tio paterno, segundo a árvore
genealógica, do velho Baldassare, e talvez proprietário daquela parte do fundo doméstico
junto à tal rua. (voltar)
ou de "fisicus"=físico no significado de médico; não temos elementos onde determiná-lo;
todavia, preponderemos por esta última derivação. (voltar)
(12) Realmente, os Baldissera de Gemona residem ainda no mesmo bairro de onde veio o bisavô
do tradutor. (voltar)
o trisavô, Pietro... (voltar)
pedreiro; o avô, pedreiro; o bisavô, pedreiro; todos os irmãos do pai, pedreiros. Os
Baldissera construíram tudo em Vale Vêneto e arredores. (voltar)
(15) O tradutor constatou in loco: um parente, em Gemona, mostrando-lhe uma velha oliveira,
em sua propriedade, ainda produzindo, disse-lhe: "Meu avô me disse que o avô dele
falava que conheceu esta oliveira já muito velha." É uma prova da manutenção da
propriedade, passando de pai para filho. (voltar)
família Baldissera Modesti, que os Baldissera de lá chamam "Casa antica dei Baldissera".
Pois bem, este prédio coube, como herança, ao Padre Valentino Baldissera que, no fim da
vida, o doou à Igreja, que por sua vez o transformou em orfanato com o nome de
"Orfanotrofio Baldissera Modesti", que foi destruído pelo terremoto de 1976. No seu lugar
foi construída uma escola e a pracinha defronte foi chamada Praça Baldissera. (voltar)
(As observações em itálico são de Ottorino Baldissera.)
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